Quando eu nasci ainda não sabia de nada. Talvez ainda hoje saiba de pouca coisa. Mas são coisas aprendidas no viver. Então, valeu a pena.
E sabem como aprendi as coisas da vida?
Foi assim: primeiro, o povo do sangue me ensinou as primeiras palavras, o andar e o sentar. Mantiveram-me vivo com aqueles gestos de amor, carinho e responsabilidade social e humana,
Já com o andar e com o falar, me pus a pular a janela e a conversar com os vizinhos. Aí foi um salto para o mundo.
Logo logo me desvencilhei da vida de moleque, abandonei a bolinha de gude, o papagaio e o futebol que nunca joguei. Peguei o caminho nunca pensado.
Aos 14 anos deixei cair as primeiras lágrimas de angústia e revolta. Descobri as causas do sofrimento coletivo e da maldade humana. Foi Gregório Bezerra, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Althusser, Lênin e muitos outros que me mostraram a dor e seus algozes. Também me ensinaram que o amor é possível.
Meu mundo agora era feito de luta. Era o mundo da revolução e da luta contra a ditadura. Nesse tempo a vida não só me fez conhecedor das coisas do mundo, como me deu um mundo de amigos e amigas que me ensinaram as coisas do amor, da solidariedade e da ternura. Eu crescia numa permanente primavera.
O tempo foi passando e meu mundo ultrapassou todas fronteiras do amor: me tornei amante e pai. Tudo ficou mais belo. Aprendi o jeito de caminhar e de amar.
Aqui estou, completando 56 anos. Não é meu aniversário, somente. É aniversário de todos autores, amigos, amigas, amantes e filhas que construí na vida. Se cá estou e assim sou, é por todos vocês, meus amores. Obrigado por me fazer gente, descobrir o mundo com o olhar profundo da crítica e da ternura transformadora.
Lúcio Carril