Em 2003, os agentes penitenciários, hoje policiais penais, haviam alertado as autoridades sobre a intenção de traficantes em se organizar para atuar de forma mais agressiva e expandir o poder e as drogas na cidade.
Um policial judiciário que não pode ser identificado, disse ao portal que chegou a informar ao sistema de segurança e ao governo, na época, sobre os riscos futuros dessas organizações criminosas atingirem os seus objetivos.
Na noite da última quinta-feira, 6, o ataque de supostos integrantes de uma facção a uma viatura da Polícia Civil que escoltava presos ao Fórum Enoch Reis, no Aleixo, zona Centro-Sul de Manaus, comprovou que os policiais judiciários tinham razão.
Segundo informações obtidas pelo portal, um dos primeiros narcotraficantes a falar dentro da Cadeia Pública Vidal Pessoa, hoje desativada, localizada na Avenida 7 de Setembro, foi Betuel, depois surgiram João Branco, Gerson Carnaúba e Zé Roberto da Compensa.
Betuel teria sido o primeiro a falar sobre a organização do crime em Manaus. Ele foi o responsável pela execução do Promotor de Justiça, Francisco Jorge Noronha, em 1996.
Uma das primeiras facções criadas no Amazonas foi a Família do Norte (FDN). Os líderes expulsaram alguns traficantes e assumiram as ‘bocas-de-fumo´, de rivais.
Traficantes que dominavam territórios ou bairros, como o Franquizinho do 40, na zona Sul, simplesmente foram executados e esquartejados, como forma de mostrar a crueldade e violência como as facção iria agir a partir daquele momento, caso algum rival ousasse enfrentá-los.
Muitas dessas lideranças que começaram a organizar as facções, já foram mortas e substituídas por outros. As mudanças na maneira de agir dessas facções, também aconteceram na forma violenta e cruel com a qual passaram a impor o seu domínio.
Houve uma explosão de crimes de execuções de rivais, muitos decapitados ou esquartejados. A ideia é mostrar força e provocar temor aos rivais.
A população foi surpreendida com tamanha violência e ficou atemorizada, mas pouco ou nada foi feito pelas autoridades para conter o crescimento do crime organizado no estado.
AUDÁCIA CRESCE E ASSUSTA POPULAÇÃO
Sem uma estratégia ou plano para conter o avanço das facções, as forças policiais do estado do Amazonas deixa a população à mercê da ‘lei paralela’ imposta pelas facções na periferia de Manaus e em alguns municípios do estado.
Uma das regras das facções é proibir os moradores de falar sobre qualquer integrante, inclui-se ai a delação caso contrário, o ‘tribunal’ sentencia os ‘infratores’ a tortura e até a morte.
DEMARCAÇÃO DE TERRITÓRIOS E A GUERRA
Policiais penais lembram que levaram as denúncias à Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALeam), que iniciou uma CPI dos Sistema Penitenciário, mas como na maioria das CPI´s, acabou em pizza e nada foi feiro.
“Na época levamos à demanda aos deputados e um deles, o Wallace Souza, ouviu as denúncias e chegou a participar da CPI, mas não deu em nada”, revela um dos policiais penais.
Hoje, as facções atuais e os seus líderes expandiram as áreas de atuação e deram início a uma ‘guerra’ sem fim pelo controle do tráfico de drogas tanto na capital do Amazonas, Manaus, quanto na região metropolitana e até mesmo nos municípios mais distantes.
AUDACIOSOS
Lideres dessas facções picham muros, casas e até prédios públicos com as iniciais das respectivas facções CV, PCC, Família do Norte, entre outras, sem o menos constrangimento.
Em alguns bairros, as facções já estariam vendendo ‘segurança’, segundo as denúncias de policiais penais. As famílias ficam caladas e ninguém sofre assaltos.
Mas também corre o risco de, se abrirem a boca, podem ser punidas pelo chamado ‘tribunal do crime’. Esses delatores são punidos publicamente e ainda tem os vídeos expostos em grupos e na internet, como recado a quem repetir o erro.
POLICIAIS PENAIS
Embora a profissão do policial penal ter sido regulamentada pelo governo federal, em alguns estados, como no Amazonas, isso ainda não foi conseguido pela categoria.
No caso do ataque da viatura da polícia na frente do Fórum Enoch Reis, quem deveria estar escoltando os presos não era a Polícia Civil, mas sim os policiais penais.
“Nós que sabemos e ouvimos tudo dentro dos presídios, sabemos como agir, fomos treinados, mas não nos valorizam. Temos nosso serviço de inteligência e saberíamos agir, mas o governo não cede”, reclama um policial penal.
TUDO É PLANEJADO DENTRO DOS PRESÍDIOS
Segundo as denúncias obtidas pelo portal, todas as ações das facções são planejadas ou arquitetadas dentro dos presídios, tomado pelos líderes dessas facções.
Os ataques do ano passado, quando foram queimadas viaturas, delegacias, outros prédios e logradouros públicos, teriam sido planejados dentro dos presídios no Amazonas.
“Eles comandam tudo e as empresas privatizadas não podem fazer nada. Integrantes ameaçam os funcionários e até os policiais penais. Rolava de tudo, trafico de drogas dentro das unidades prisionais e muitos líderes mantém armas de fogo,”, revelava a denúncia feita e apresentada á CPI que investigaria o sistema prisional do Amazonas.
Até hoje não haveria controle do estado sobre os presídios e quem impõe as regras seriam as lideranças das facções.
Por isso, a maioria dos crimes de execuções ocorrido na cidade e em alguns municípios, são planejados de dentro dos presídios.