O modelo Zona Franca de Manaus completou 56 anos. Nessas quase seis décadas já serviu para muita coisa, mas muito pouco como polo de desenvolvimento.
A Zona Franca é um modelo criado pelo economista François Perroux, que em 1949 criou a Teoria dos Polos de Desenvolvimento. Perroux era totalmente contrário à maximização do lucro em troca da miséria da população e sua ideia de desenvolvimento não focava necessariamente no crescimento econômico, mas sim na melhoria de vida das pessoas através do aumento do IDH e da preservação ambiental.
Pois bem. Basta essa abordagem da Teoria dos Polos de Desenvolvimento para enquadrarmos a Zona Franca de Manaus.
Em 2022, o Polo Indústria de Manaus faturou mais de 160 bilhões de reais, número que não foge à média dos últimos anos, numa variação superior a 130 bilhões/ano. O número de empregos diretos e indiretos chegou a 114 mil.
Até aqui tudo bem, tal qual aquele desvairado que pulou do vigésimo andar e ao chegar ao quinto repetiu essa pérola, se não partíssemos para avaliar essa maximização do lucro com a faixa salarial dos operários empregados nas fábricas do distrito industrial.
Segundo a Suframa, 60,5% dos 89.083 trabalhadores efetivos do polo industrial de Manaus ganharam em média dois salários mínimos em 2022 e 37% ganharam até um salário mínimo.
São números alarmantes e díspares com o projeto de polo de desenvolvimento.
O que acontece nesse modelo é a maximização do lucro através de uma mais-valia relativa, beirando a absoluta, já que não é possível sustentar uma família com um ou dois salários mínimos.
As multinacionais do Parque Industrial de Manaus (PIM) continuam tratando o modelo Zona Franca como uma zona de exploração de mão-de-obra desqualificada e desregulamentada, apesar de ter operários e operárias com qualificação e o Brasil ter leis trabalhistas.
Não é mais possível defender o modelo sem colocar em pauta a melhoria salarial dos trabalhadores, a qualidade de vida do povo manauara e o desenvolvimento de Manaus. É pura falácia defender isso do jeito que está. Queremos empregos, mas queremos também respeito às nossas famílias e ao nosso povo.
Não preciso sequer lembrar que o polo agropecuário sempre foi um embuste. Agricultores familiares continuam penando nos ramais das ZFs sem o menor apoio e infraestrutura, enquanto a área do PIM tem investimento público e excesso de bajulação.
Nesses 56 anos da ZFM clamo por respeito e justiça ao nosso povo. Enquanto as empresas abarrotam seus bolsos com dinheiro tirado do suor dos trabalhadores, nossa gente é soterrada nos bairros abandonados da nossa cidade.
Lúcio Carril
Sociólogo