Gerir um boi-bumbá em Parintins sempre pareceu ser um bicho de sete cabeças e um trabalho que estava fadado a gerar dívidas para associação folclórica. Nos últimos anos, o que se percebia era que gerir um boi era gerir dívidas. Mas, o presidente do Caprichoso, Jender Lobato, vem mudando essa difícil realidade que se arrastava por anos na cidade. Hoje, a gestão de Jender é, claramente, diferenciada e mostra resultados dentro e fora da arena do bumbódromo de forma artística e econômica.
Nos três anos de gestão, Jender Lobato conseguiu pagar os artistas do Caprichoso em dia, efetuar pagamento de dívidas atrasadas, fazer a manutenção do patrimônio do bumbá, obter novos recursos para a agremiação e, para ainda maior satisfação da nação azulada, ser campeão do Festival Folclórico de Parintins. Quando assumiu o Caprichoso em 2020, Jender recebeu o boi com uma dívida superior a R$ 13 milhões, processos na Justiça do Trabalho e teve que enfrentar o súbito trágico de uma pandemia (Covid-19). Em poucos anos de gestão, Jender conseguiu reduzir os débitos do Boi Caprichoso em quase 50%.
Mas, qual o segredo para o sucesso da gestão de Jender Lobato? O próprio presidente responde a pergunta e dá a receita à quem interessar. Segundo Lobato, sua experiência na gestão e o conhecimento interno do bumbá foram fundamentais para administrar o Caprichoso de forma eficiente. Ao longo dos anos, Jender trabalhou de forma voluntária com vários presidentes na área administrativa, judicial, fiscal e conhece todos os setores do bumbá. Ele afirma que acompanhou vários modelos de gerência das presidências anteriores e pôde ver qual sistema funcionava e qual precisava de ajustes e, assim, conseguiu montar um processo organizacional com o melhor de cada sistema de gestão que teve acesso.
Uma medida adotada por Jender também se tornou base na gestão: só contratar trabalhador após a confirmação da cota de patrocínio. Em suma, é um princípio básico da administração que não vinha sendo respeitado por muitos presidentes. Jender conta que só assina com artista ou demais trabalhadores após a confirmação do orçamento disponível para a realização do festival. “A minha responsabilidade é estar sempre com o pé firme no chão para saber que a gente só pode contratar aquilo que a gente tem pra pagar. Todo o planejamento do Caprichoso foi dentro do nosso orçamento. Então, todos os contratos foram assinados com o boi somente a partir do momento que o governo do estado fechou patrocínio, a Coca Cola confirmou patrocínio e a partir do momento em que a Maná Produções confirmou os patrocinadores”, informou.
O artista Caprichoso é prioridade na gestão de Jender Lobato. Todos os colaboradores recebem em dia, fato difícil de se ver em gestões anteriores. No dia 02 de junho o boi efetuou o pagamento da penúltima parcela do contrato de 2023 e o último vencimento deve ser pago antes do início das apresentações no Festival Folclórico (30 de junho, 01 e 02 de julho). Em maio o Caprichoso utilizou mais de R$ 1,4 milhão com pagamento direto aos trabalhadores. A folha do mês de junho terá um valor de mais de R$ 1,8 milhão somente com mão de obra (artistas e demais trabalhadores). Segundo Jender, a diretoria usa praticamente todo o convênio do Governo do Amazonas para pagar o trabalhador Caprichoso.
Para Jender, seu maior compromisso é com aqueles que constroem diretamente o boi, que fazem toda a beleza artística apresentada no bumbódromo. Ele acompanha pessoalmente todo o processo financeiro do boi “para que as pessoas que estão lá na ponta do processo, o artista Caprichoso, possam ser os primeiros a serem contemplados”. “A gente consegue ajustar tudo isso de uma forma muito inteligente e muito compromissada pra que a gente possa estar por dentro de todos os detalhes do boi. Eu acompanho tudo, todas as compras, os orçamentos, os pagamentos pra que nada posso desvirtuar e, assim, honrar os compromissos”, revela Jender.
Jender também destaca o trabalho de revitalização e recuperação dos patrimônios do bumbá. Curral Zeca Xibelão, Escola de Arte Irmão Miguel de Pascalli, galpões e ateliês receberam atenção especial e estão em pleno funcionamento. Segundo Jender, é preciso ter uma “gestão de responsabilidade, uma gestão de compromisso, uma gestão que respeita o artista, uma gestão que cumpre tudo aquilo que se propõe a fazer e, principalmente, uma gestão que vem recuperando o Caprichoso e preparando o boi para o futuro”.
Jender responde o questionamento que inicia essa reportagem. “Esse é o segredo do sucesso. Ter os pés no chão e gerir com amor, responsabilidade e compromisso com o artista. E o sucesso vai ser consagrado com a vitória do Caprichoso, se Deus quiser. Essa vitória vindo, aí sim, a gente vai saber que todo o trabalho ao longo dos quatro anos com apenas dois festivais deu certo e que as próximas gestões dos bois possam seguir um compromisso de responsabilidade, principalmente, com o artista que faz o Festival de Parintins”, conclui.