Parece brincadeira quando vejo um mentecapto falar do perigo comunista. Mais hilário ainda é o discurso que segue, enfatizando o risco moral da destruição da família, o ateísmo, o Estado opressor e outras coisas do gênero.
Mas não se trata de mera ingenuidade. Há ignorância em muitos, é claro, mas há, fundamentalmente, uma ideologia de classe por trás dessa onda perniciosa.
A ideologia dominante nos põe e impõe que a liberdade, por exemplo, só é possível no capitalismo, sistema onde você pode ficar rico, ter direito de ir e vir, ter tudo que você precisa, etc, etc.
Ora, isso é mentira.
O trabalhador não enriquece a si próprio, apesar de produzir riqueza. Ele torna o patrão, dono dos meios de produção, seja de mercadoria ou de serviço, mais rico, através de um mecanismo de exploração chamado por Marx de mais-valia.
Ninguém sem dinheiro tem direito de ir e vir. Ninguém sem dinheiro tem acesso aos produtos disponíveis para compra. E o dinheiro ganhado num capitalismo como o que existe no Brasil não dá para quase nada.
E a família? Será preciso varrer o comunismo da história para a família ser preservada? Mais uma conversa desligada da realidade.
Quem destrói a família enquanto núcleo social é o capitalismo e a moral dominante do lucro. A família é destruída quando pai, mãe e filhos têm que trabalhar para manter sua sobrevivência e sua dignidade, não sobrando tempo para se confraternizarem ou sequer trocarem olhares de ternura, diante do cansaço e do estresse do dia a dia.
E o ateísmo ou a possível perseguição religiosa? Não é preciso ser comunista para defender um Estado laico. Basta ter superado o medievalismo.
Religiões tem o direito de organização, mas isto não pressupõe criação de grupos criminosos mantidos pelo charlatanismo.
Para finalizar: e o Estado? Sim, o comunismo é a favor do fim do Estado, mas não para substituí-lo pelo mercado, que nada mais é do que a representação simbólica de milionários que construíram suas riquezas do suor e do sangue do trabalhador.
O comunismo preconiza o fim do Estado e a ascensão da sociedade civil, enquanto modo autônomo de organização coletiva.
É risível ver tanta gente falando tolice sobre o que não sabe. Até mesmo gente com um canudo do ensino superior balbuciando asneira sobre uma teoria que tem seus fundamentos acessíveis a qualquer iletrado.
É melhor buscar informação do que passar vergonha repetindo mentiras do século XIX.
Lúcio Carril
Sociologo