Faz tempo que quero falar do poeta e da poesia, mas sou um sociólogo sem as palavras do sentir e do encantar. Vou falar com o verbo ver, sem a fronteira do olhar.O poeta não é um ser humano comum. Ele tem alguma coisa que o faz ver espírito nas pequenas coisas. Ele é capaz de descrever com ternura e paixão uma chama no isqueiro e os olhos fumegantes da mulher amada.O poeta corre, para, mergulha na metafísica do mundo e sai sem contar vantagem. Ele chora, dá risada, se angustia, sofre, mas não perde a poesia. A poesia é uma linguagem do mundo. Ela pode contar a história de como o mundo foi criado. Diferente da grosseria religiosa ou da mecânica científica, a poesia mergulha na alma das coisas. A poesia é uma verdade que não se importa em reivindicar a verdade. Ela vive do sonho possível, da denúncia da opressão e da busca da liberdade e do amor.A poesia não é uma forma. Ela transforma, compreende o desespero, viaja sobre as nuvens sombrias da tempestade, mergulha no rio de algas venenosas, mas não desiste da primavera.O poeta e a poesia se fizeram parte de um amanhã melhor. Como o mundo não seria mais belo se a poesia fosse uma constituição e o poeta um ser em sublime posição. Bem que toda construção deveria ter na sua essência um poema de amor e de resistência. A vida seria bem melhor.Como não seria mais bela a vida se as estradas fossem feitas de versos e ao caminhar por ela a gente encontrasse um poema do Neruda, do Drummond, do Luiz Bacelar e nas suas encostas, lá na sarjeta, Manoel de Barros declamasse as miudezas do mundo.
Lúcio Carril
Sociólogo.