No tempo em que gerente do Banco do Brasil era autoridade estudava no
Colégio Estadual do Amazonas uma figura por todos os aspectos simpática. Era o João, conhecido como Joãozinho, que sabia dosar em quantidades proporcionais companheirismo e
alegria.
O chamado segundo grau era dividido em dois cursos: o clássico e o científico,
destinando-se o primeiro aos mais inclinados para as ciências humanas, e o segundo, para os que tinham maior afinidade com as chamadas ciências exatas.
Já se vê que os alunos do clássico tinham que enfrentar Ovídio e Cícero, mas,
em compensação, suas aulas de matemática e física, por exemplo, eram reduzidas. E tinham que ser mesmo porque eu só conheci uma pessoa que conseguia se safar dos, apesar de todaredução, complicadíssimos problemas de matemática. Era o Nelson Dantas, tanto assim quese transferiu para o científico e acabou engenheiro.
No último ano do clássico, o terceiro, Joãozinho estava bem em latim,
literatura, francês, mas não conseguia exorcizar o fantasma da reprovação em matemática, cujo professor era nada mais, nada menos que o famoso Otávio Mourão, conhecido como Mourão Preto, em contraponto com o Mourão Branco, personalizado pelo professor Fueth Paulo Mourão.
Ambos estão mortos e ambos deixaram saudades. Lembro-me, inclusive, de
que, tomando cerveja com o prof. Otávio Mourão, quando ele já era reitor da Universidade do Amazonas, disse-lhe que ele tinha sido o único professor a me flagrar colando. Foi numa prova de física (que ele também ensinava) e é claro que o mestre não se recordava do incidente, enquanto eu jamais o esqueci, tamanha foi a vergonha por que passei. Foi no segundo ano e eu era aluno do clássico.
Naquele tempo, no final do ano letivo, havia prova oral e, na de matemática,
Joãozinho não escondia o nervosismo, aguardando a inquirição (que era pública) por parte do temível prof. Mourão Preto. Na sua cabeça voluteavam equações, logaritmos, integrais, derivadas e todos os mais terrores da ciência dos números.
— João de ……, chamou a banca.
Joãozinho senta à frente do monstro e a classe ouve, surpresa, a voz estentórea,
que era reflexo da indiscutível autoridade do mestre e apenas camuflava um enorme coração:
— João, estás no último ano e eu não quero te reprovar. Diz aí o que tu sabes
de matemática para eu poder fazer as perguntas.
A resposta não se fez esperar:
— Professor, eu sei integrar, derivar e desfilar.
A gargalhada foi geral, João foi dispensado e aprovado.
Não preciso dizer que Joãozinho era o que, então, se chamaria de fifi.