Uma escola gerida pela PM aqui em Manaus encontrou spray de pimenta, arma de brinquedo e duas facas talheres em mochilas de 4 crianças. Expulsou todas e as mandou com os pais para a delegacia.
Mas logo a polícia militar, a maior responsável por violência institucional contra a população?
Durante a campanha do traste genocida, cujo carro-chefe era a liberação das armas, essas escolas administradas pela PM reuniam os alunos no pátio para pedir voto e defender as propostas de Bolsonaro.
Como agora expulsam crianças vítimas da conduta armamentista deles?
É correto fazer a revista onde não há detector de metal, mas expulsar crianças que estão sob pressão daquilo que eles ajudaram a construir é mais um contrassenso desses militares.
Já é um ponto fora da curva militar fazer gestão escolar. Militar tem que estar na rua protegendo a população. Mas se está na escola, poderia se esforçar para ter um mínimo de postura pedagógica.
Deveria ter chamado os pais das crianças, conversado sobre o problema e buscado um atendimento psicológico e social a ambos.
É assim que deve ser a conduta de um educador.
Tratar o problema criminalizando crianças e adolescentes é mais um ato de violência do que de proteção.
A família, o Estado e a sociedade precisam proteger nossas crianças e adolescentes. Isto está no ECA e é uma exigência civilizatória.
A questão da violência que está afetando jovens que estão na escola e nunca delinquiram não pode ser tratada como um mero caso de polícia. Trata-se de um fenômeno provocado por uma conduta coletiva.
Já há sinais de que existem grupos fomentando isso em redes sociais. Os mesmos grupos que defendem armas e a violência contra mulheres, gays, negros e moradores de favelas.
São esses os inimigos do povo, da sociedade, do Estado, da democracia e da civilização. São eles que devemos combater e não nossas crianças e adolescentes.
Não é errado a polícia identificar e reprimir jovens com manifestações de ameaça contra a vida de outras pessoas. Mas a repressão não resolve nada. É só um caldo quente para tratar um câncer.
É preciso identificar os possíveis agressores e oferecer tratamento a eles. Se estão na escola, não são bandidos. Essa garotada é boa. Só está sofrendo o horror do fascismo que pulsou no Brasil por quatro anos e continua sendo disseminado por grupos de extrema direita, incluindo neonazistas.
Aqui no Amazonas, polícia e secretaria de educação estão fazendo espetáculo com a prisão de estudantes, como se estivessem desbaratando uma quadrilha de delinquentes. O absurdo é tão grande que os órgãos de segurança estão enquadrando os adolescentes na Lei Anti-terrorismo.
Terrorismo é o que estão fazendo com um problema tão grave e que não deve ser tratado apenas como caso de polícia. O descaso,a preguiça e a incompetência sempre pegam o atalho da punição para escamotear o verdadeiro papel das instituições.
Lúcio Carril
Sociólogo