Eu já conhecia o fascismo e sua face ruim, criminosa e desumana. Foram os livros, o cinema e os depoimentos dos velhos guerreiros da resistência que me falaram.
Aí começou 2019. Fiquei cara a cara com a sombra nefasta de Mussolini e passei a viver aquilo que li, vi e tinham me falado. Vivi o pão que o diabo amassou.
O golpe contra a democracia era diário. Todo dia era tocado o terror. O país mergulhou no obscurantismo. O racismo aumentou, assim como aumentou o feminicídio e o assassinato do nosso povo homoafetivo. Direitos foram suprimidos e banqueiros batiam nas suas panças abarrotadas de dinheiro ganho com a agiotagem tolerada.
Vi a cara hedionda do fascismo rindo dos mortos na pandemia. Vi a pantomima da morte do fascismo quando meus irmãos e irmãs feneciam por falta de oxigênio.
Viver o fascismo é bem pior do que vê-lo nos livros e nos filmes. Lá eu sempre fiquei indignado, mas quando fiquei cara a cara com ele vivi seus horrores da censura, da perseguição, da fome e do descaso com tudo que é humano.
Não larguei meus livros e também não larguei as mãos dos meus companheiros e companheiras. Juntos, montamos a resistência.
Fomos para as redes sociais desmascarar as mentiras e nas ruas entrelaçamos os braços em aguerridas e belas caminhadas contra o fascismo. Gritamos, protestamos, não nos calamos.
Jovens, velhos, gente da resistência à ditadura militar, mulheres, gays, negros e negras, caboclos herdeiros da cabanagem na Amazônia, todos protestavam, ninguém ficou calado, ninguém largou a mão de ninguém.
Derrotamos o fascismo.
Sabe por quê?
O fascismo não resiste à beleza da resistência e do amor que dela nasce. Não aguenta nossos braços entrelaçados, nosso desejo de compartilhar, nossa vontade de construir a felicidade.
Vencemos como quem vence o mal e é com esse sentimento que vamos construir o bem, com um Brasil tão bonito quanto o sorriso de uma criança e o olhar terno de um idoso.
O amor venceu.
Feliz 2023.
Lúcio Carril
Sociólogo