O capitalismo é muito competente para enganar as pessoas. Diz que todos têm liberdade, mas na verdade só tem liberdade quem tem grana. Por exemplo: você tem liberdade de ir e vir e de fazer o que quer? O capitalismo diz que sim, só não diz que para adquirir determinados bens, tem que ter bufunfa, mesmo que esse bem tenha sido produzido por ele, o operário; que para viajar para outra cidade tem que ter grana para as passagens. Ou seja, só tem liberdade de ir e vir e acesso aos bens produzidos quem tem grana. É uma liberdade para poucos.
O capitalismo também te engana quando diz que todos podem ser ricos. Sobre isso, basta lembrar que 5 bilionários brasileiros ganham o equivalente ao que 100 milhões de trabalhadores recebem de salário. Não diz que para ser rico tem que se apropriar de alguma coisa que não é dele, sejam bens naturais ou a força de trabalho. De cada 8 horas de trabalho, o patrão fica com pelo menos 5 horas. É daí que nasce sua riqueza. Foi concessão de Deus? Aí é outra seara da qual o capitalismo também utiliza para justificar sua extrema desigualdade e opressão: a religião, principalmente a evangélica (leia A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Max Weber)
Mais recentemente, o capitalismo inventou que não existe trabalho precarizado. Todo trabalhador avulso agora é um empreendedor. Só não diz que esse indivíduo que trabalha por conta própria, em minúsculos negócios, não tem direito à férias, à 13⁰ salário, a plano de saúde, FGTS e, muitas vezes, ao descanso aos domingos.
O empreendedor é um trabalhador super explorado pela sua condição de desempregado e de vulnerabilidade social. O capitalismo sabe que ele está estruturalmente excluído, aí inventou esse nome bonito “empreendedor”, para consola-lo.
Todo esse canto da sereia tem um nome: ideologia dominante. A classe dos ricos, milionários e bilionários utilizam aquilo que Louis Althusser chama de Aparelhos Ideológicos de Estado (AIE) para transmitir seus valores e ideias e assim acalentar o povo, tornando-o dócil e subserviente. Utiliza escolas, meios de comunicação, forças armadas e outras instituições para propagar sua ideologia.
Tem uma saída para não ficar a vida toda sendo ludibriado e explorado? Claro que tem. Será quando o trabalhador tomar consciência que é ele que produz a riqueza e dela deve usufruir. Aí não mais o patrão se apropriará de quase toda a sua força de trabalho. Dessa força nascerá a verdadeira liberdade.
Lúcio Carril
Sociólogo