Os que o conheciam diziam que ele tinha pirado ao abraçar o fascismo. Ninguém em sã consciência poderia juntar arte e censura num só balaio. Alguns mais generosos classificavam como insólito, mas outros chegavam até a arriscar que se tratava de alguma coisa mais grave, como um trauma de infância.
O certo é que ele tinha se tornado um acólito de Mussolini ou, numa versão tupiniquim, de Plínio Salgado. O velho ripão tinha virado integralista quase um século depois do movimento. Tinha pirado, mesmo.
Agora escrevia uns textos atabalhoados nas redes sociais, levando muita gente a voltar a dizer que ele tinha sofrido novo trauma. Depois do seu líder fascista perder a eleição, o homem passou a escrever com pingos de ira, como se babasse durante o esforço que fazia ao raciocinar.
Seus poucos amigos, que também tinham abraçado o fascismo, o acalentavam com elogios, dizendo que ele tinha sido um bom artista. Mesmo os ex-amigos concordavam com isso, mas lamentavam que ele tivesse se tornado um militante do fascismo no Brasil.
Se era trauma ou descarrego ninguém tinha certeza, mas todos que o conheciam sabiam que ele não estava bem. De uma hora pra outra postava umas sandices, chorando a derrota do seu líder fascista ou respondendo ao que entendia como referência à sua cambaleante caminhada para o palco da infâmia.
O certo é que o artista sucumbiu. Virou um ser magoado, odioso, rabugento, sem a verve artística que um dia o tornou humano. O fascismo tem dessas coisas: consome a alma de quem o abraça.
Lúcio Carril
Sociólogo