Acordei no meu ninho molhado pelo orvalho da manhã. Raios de sol me aqueciam como um cafuné do meu amor. Saí a voar entre a mata verde, ainda chorando de tanta alegria de existir. Água, luz, sol e canto a gritar: eita lugar bom para morar.
A noite chegou e aquele vento frio me fez voltar. Era hora de nas asas do meu amor eu repousar. Mas para minha surpresa não vi a lua entre o verde da mata penetrar.
O que houve, meu amor, com aquele luar que nos faz sonhar?
Logo percebemos que a lua tinha se recolhido em protesto por tantas árvores no chão, sem vida e sem respiração. Era a destruição que tinha chegado, levando as folhas com orvalhos e a beleza daquela mata verde.
Oh, a vida vai acabar.
Meu canto agora é meu grito a denunciar.
Querem matar nossa mata e nossa vida acabar. Sou pássaro que agonia sem lua e sem ninho para morar.
Quero as asas do meu amor para chorar.
Não posso viver sem meu ninho, meu ar, minhas plantas, meus desejos. Minha floresta é meu mundo, um pequeno ponto no universo latejante. Cada árvore caída é vida que se vai, é rio que morre, é canto que se cala, é lágrima que cai.
Minha floresta é meu canto, meu universo de muitas vidas. Preciso dela para viver, voar, sonhar.
Canto meu canto, aquela árvore destruída, meu lugar para morar.
Minha floresta pede socorro. A ganância tem nome de fogo, destruição e morte. Vou sair a gritar: nos deixem voar, sou pássaro sofrendo sem ter onde morar.
Lúcio Carril
Sociólogo