E já se passaram 25 anos desde que o professor Sinésio Campos ingressou na assembleia legislativa do Amazonas pelo voto popular.
Formado em filosofia, aprendeu com Nietzsche que é preciso velejar com os ventos da resistência. E assim navega entre seres estranhos à política, seres embrenhados no lamaçal dos próprios interesses.
Como no livro de Stephen King, Os Estranhos, em que uma espaçonave alienígena solta um gás invisivel, transformando as pessoas em seres iguais aos ETs, tornando-as mais inventivas, mas não fornece nenhum equilíbrio moral e ético de suas invenções.
A vida no parlamento, como na espaçonave de King, não é um embalo numa rede de varanda bordada. É preciso saber se livrar do ar contaminado pelo desequilíbrio da ética e da moral.
Nesta semana, Sinésio foi o único voto contrário a um projeto de lei que estabelece a partidarização das escolas a partir da doutrinação neopentecostal, um atentado civilizatório contra o Estado laico. Sob protesto do rebanho que lotava as galerias da assembleia, não se intimidou e registrou seu voto em respeito à educação crítica e dialética.
Como dizia Mahatma Gandhi, a resistência é pacífica, mas não passiva contra as injustiças.
A solidão de Sinésio no parlamento estadual é compensada pela sua obstinação em estar no meio do povo. Todos os dias faz uma peregrinação de visitas e reuniões na periferia de Manaus e nos municípios do Amazonas. É uma luta incansável, premiada pelo abraço caloroso da sua gente.
Sinésio continua morando no mesmo lugar em que morava quando lecionava: no bairro de São José Operário. Nada de condomínio fechado ou apartamento de luxo na ponta negra.
Sua atuação política na assembleia legislativa é construída com muito traquejo e lealdade aos princípios do Partido dos Trabalhadores, onde está filiado desde 1995 e hoje é seu presidente estadual. Não é fácil sobreviver num ambiente com ar rarefeito, propício para o sufocamento de quem ousa fazer política com as cores da ética e da esperança.
Nossa saudosa Marielle Franco tinha razão: as rosas da resistência nascem no asfalto.
Parabéns, meu companheiro Sinésio Campos, nosso novo sexagenário (03/12).
Lúcio Carril
Sociólogo