Não quero tratar do desempenho do PT nas eleições deste ano, pois está cheio de análise, números, baforadas, intrigas e outras coisas do gênero político brasileiro na mídia, principalmente nos meios de comunicação corporativos.
Quero falar de partido.
Se já teve gente dizendo que o samba ia acabar e que a história tinha chegado ao fim com a queda do muro de Berlim, almas penadas também já vaticinaram o aniquilamento do Partido dos Trabalhadores e a morte política do seu maior líder, o Lula.
Nem uma coisa, nem outra. Os dois estão vivos, incomodando, pouco, é claro, mas num país cujas elites nunca foram incomodadas, salvo uns movimentos esporádicos ou outros, o PT cumpre um papel histórico de assombrar o sono dessa gente mesquinha.
Não é pra menos. O partido, desde a redemocratização, disputou em segundo turno todas eleições presidenciais e ganhou cinco delas, isso com apenas 44 anos de vida. Seu maior expoente, Luís Inácio Lula da Silva, entrou para história como o primeiro presidente de origem e formação operária, que erradicou a fome e colocou o Brasil entre as oito maiores economias do mundo.
O PT incomoda muita gente, mas precisa incomodar muito mais. Este nosso país está repleto de espírito de porco, gente que promove o ódio, a mentira, o assalto e tudo que não presta. Esses precisam ser incomodados, sem vacilo ou contemplação.
O PT precisa se reconstruir como partido revolucionário, organizado no tecido social: na fábrica, na periferia, nas escolas e universidades, para incomodar muito mais as elites mesquinhas, a extrema direita fascista e promover consciência de classe nos trabalhadores e trabalhadoras.
O PT tem que falar a verdade para o povo e para isso precisa voltar para sarjeta, pra lama das periferias, para a piçarra das áreas rurais, para os botecos, salas de cultura, igarapés, favelas e morros. Chega de conversa enviesada, que tem feito do partido uma organização pequeno-burguesa, guarida de oportunistas e malfeitores.
É hora de um grande reencontro com sua própria história. É preciso fazer esse movimento dialético para continuar crescendo e incomodando. Se o governo Lula tem seus limites impostos pela conjuntura, o PT precisa caminhar firme ao lado da classe trabalhadora e dos segmentos que formam a sociedade brasileira.
Tenho ouvido falar que o PT está em crise. É claro que está. Um partido do tamanho do PT vive na crise e da crise. O único local que não tem crise de conflitos é o cemitério e para lá já tentaram levar o partido, que disse não, quero continuar incomodando.
E o PT não incomoda somente a direita, a extrema direita e as elites mesquinhas. O partido também deixa incomodados uns e outros agourentos que estão incrustados na sua pele, que não entendem ou não querem entender a complexidade que é um partido político moderno. Sim, o PT é um belo exemplo de organização política moderna. Ele superou tudo que foi experiência partidária no mundo.
É preciso construir mais luta. É preciso fazer o discurso de classe. É preciso abandonar o caminho eleitoreiro e pensar nas mudanças a partir da organização da sociedade. É preciso seguir incomodando e construindo um Brasil e um mundo melhor, heterogêneo, livre e bonito.
Lúcio Carril
Sociólogo