Não, não é mais a ministra Marina Silva com seus frágeis argumentos contra a pavimentação da BR 319. Ela até já pondera sobre a possibilidade de recuperação da estrada, desde que todos os cuidados ambientais sejam tomados. Só esqueceu de dizer que esses cuidados são de responsabilidade do ministério do qual ela é titular, compartilhados com estado e municípios.
Quem continua na sua jornada quixotesca contra a rodovia é um Cavaleiro de Triste Figura, travestido nos dias de hoje em pesquisador ou ambientalista, que faz da estrada um moinho de vento. Cervantes ficaria triste com essa transgressão do seu personagem central.
A última entrevista desse cavaleiro é digna de assombro. Diz ele que a pavimentação da BR 319 será um colapso civilizacional na Amazônia e no Brasil, pois afetará o regime de chuvas no país, levando a Amazônia à morte e ao fim dos rios aéreos que abastecem as regiões sul e sudeste.
É muita tragédia para 400 km de asfalto. Pela sua tese, os outros 400 km já asfaltados deveriam ter destruído metade do bioma amazônico e encerrado metade dos rios aéreos que chegam até outras regiões. Assim como D. Quixote, viu monstros onde só existiam moinhos.
Na verdade, não se trata de uma fantasia quixotesca. Há por trás desse terror uma clara intenção de tirar o principal foco daquilo que realmente destrói a natureza aqui na Amazônia, no Pantanal, na Mata Atlântica, no Cerrado, em todo Brasil e no mundo: o capital.
Por que será então que o dito pesquisador não quer combater a força motriz da destruição ambiental? Por uma questão simples e oculta: as grandes corporações capitalistas mantêm grandes institutos que financiam pesquisas sobre o pum do carapanã e seus efeitos na atmosfera. Com isso, tiram de foco suas ações deletérias ao meio ambiente.
Já que maldade não tem limite e fantasiar não é crime, o cavaleiro montado agora no seu cavalo amarelo, como na visão profética do Apóstolo João, diz que Manaus deixará de ser ocupada em meio século e que milhões de amazonenses morrerão com uma sensação térmica de 71⁰ graus centígrados. Tudo isso se for concluída a pavimentação da BR 319.
O pior de tudo é que tem gente e veículos de comunicação que publicam esses desvarios.
Ninguém ignora os efeitos danosos das mudanças climáticas ou desconhece o que estamos enfrentando no Amazonas e na Amazônia, mas daí criar uma profecia apocalíptica e dizer que é ciência não pode ganhar credibilidade. Isso é manipulação do conhecimento para chegar a um fim almejado e no caso, o fim não é a preservação da natureza.
Para encerrar a viagem pelo mundo da fantasia desse senhor, que anda dando carteirada em desembargador federal, ele sai da literatura quixotesca e das escrituras bíblicas para adentrar o mundo da mitologia grega, ao dizer que a BR 319 é a Caixa de Pandora da Amazônia, do Brasil e do mundo. Sua pavimentação espalhará o mal e o infortúnio por toda parte, inclusive com sucessivas pandemias.
Seria cômico se não fosse cínico.
Há uma total manipulação ideológica do conhecimento científico para atender interesses escusos. Não apontar o verdadeiro problema da humanidade para garantir apoio financeiro e atenção dos grupos econômicos que destruíram e destroem o meio ambiente é de um cinismo cheio de precedentes. As instituições de pesquisas estão cheias desses interesses, apesar de abrigar cientistas e pesquisadores sérios e comprometidos com a preservação do planeta e com as vidas que o habitam, inclusive as humanas.
À minha gente manauara, nem Moinhos de Ventos e nem Caixa de Pandora, queremos apenas cidadania e nosso direito de escolher por onde andar.
Lúcio Carril
Sociólogo