Com regentes em sintonia e nova formação tática, Batucada do Garantido aposta na cadência precisa e no sentimento coletivo para emocionar o Bumbódromo em 2025
A Batucada do Boi Garantido realizou o último ensaio nesta quarta-feira (18) no Mirante Lúcia Almeida e se despede de Manaus. O núcleo da capital parte rumo a Parintins para se juntar ao grupo nos ensaios finais e, enfim, pisar na arena. Com estratégias definidas e sentimento à flor da pele, os ritmistas se dizem prontos para, mais uma vez, fazer história.
No coração da Baixa do São José, antes mesmo que o som da toada ecoe pela arena, o ritmo já pulsa forte. Não é apenas som. É identidade. É resistência. É o eco de uma tradição centenária que nasceu com Lindolfo Monteverde e atravessa gerações.
O corpo percussivo, criado há mais de 100 anos, é mais do que um conjunto de instrumentos de percussão: é a força ancestral que mantém viva a alma encarnada do bumbá.
Em 2025, esse legado retorna à arena de Parintins com uma formação mais enxuta, porém ainda mais precisa, movida por sentimento, disciplina e entrega. Os principais líderes da batucada vieram a Manaus para um momento decisivo: alinhar com o núcleo de Manaus, técnica e emoção para garantirem três noites inesquecíveis de espetáculo.
Ritmo, Cadência e qualidade
À frente dessa engrenagem está Chico da Madá, coordenador geral da batucada. É ele quem traduz, na prática, o que o Garantido pretende levar à arena este ano: um espetáculo coeso e tecnicamente impecável.
A principal mudança de 2025 começa pela quantidade de ritmistas: o grupo, que já chegou a ter 300 integrantes, agora contará com 240.
“Saímos da quantidade buscando qualidade”, explica Chico. “A batucada está preparada, arrumada, e agora estamos no momento da expectativa, finalizando detalhes para que o improviso aconteça com perfeição”.
Outro ponto fundamental é a antecipação da ida a Parintins: os ritmistas vão desembarcar uma semana antes do festival. A decisão busca alinhar os 180 batuqueiros de Parintins com os 60 que vêm de Manaus, após meses de ensaio separados. A meta é simples e poderosa: união e sincronia. “Essa chegada antecipada muda toda a preparação do grupo. É quando a gente junta o trabalho e define tudo junto”, explica o coordenador.
Chico destaca ainda o foco em oficinas e capacitações musicais que têm preparado os batuqueiros não apenas tecnicamente, mas emocionalmente: “A gente busca o sentimento musical, a sensibilidade de tocar com verdade”.
Dois comandos, um coração
Na arena, a batucada é dividida entre dois regentes. De um lado, Marcelo Bilela, do outro, Ivoney Sopa. Mas a separação é apenas geográfica. No compasso da batida, são um só.
Bilela, veterano no comando, fala com orgulho da trajetória coletiva. “A gente resgatou um pouco mais da nossa essência. Padronizamos a batucada, com palminhas, surdos e caixas bem distribuídos, tudo para garantir uma cadência coesa e contagiante.”
Com 240 ritmistas sob sua batuta e a de Sopa, a missão é manter uma harmonia inabalável em meio ao caos criativo do festival. “A gente já tem uma sintonia muito boa com os batuqueiros. É um trabalho que vem sendo construído há anos, com entrosamento, respeito e muito ensaio”, completa Bilela.
Sopa reforça que esse equilíbrio só é possível com preparo e conexão real. “A gente cresceu junto, fomos criados ali na Baixa. Nos comunicamos pelo olhar. Já conhecemos o toque um do outro, os sinais, o tempo. É natural.”
A rotina intensa de ensaios começou meses antes do festival, com atenção a cada setor da batucada. Segundo Sopa, esse processo permite garantir equilíbrio entre todos os instrumentos — e, mais do que isso, sintonia com a banda melódica. “A base da banda e da batucada é praticamente a mesma. Isso facilita a nossa troca e garante uma apresentação afinada.”
A batida que carrega tradição
A Batucada do Garantido não é apenas música. Ela é memória coletiva. É o som que embala promessas, embates, glórias e resistências. Patrimônio Imaterial do Amazonas, ela carrega em seus repiques a força da ancestralidade. Desde 1913, seu som ressoa pela Baixa como um tambor chamando o povo à festa.
Além de acompanhar as toadas, a batucada guia o espetáculo. É ela que dita o passo das alegorias, a emoção do amo, o respiro dos dançarinos e o coração do boi.
Com ensaios intensos, ajustes técnicos e conexões emocionais, a batucada caminha para mais um ano de espetáculo. E, embora invisível para muitos, é ela quem sustenta a energia que faz o Garantido encantar.
Bilela e Sopa comandam de costas para a arena, olhos fixos nos ritmistas. Não veem o festival acontecer — eles o fazem acontecer. E, ao lado de Chico da Madá, transformam o suor dos ensaios em batida firme, afinada e vibrante.
A cada toque, a batucada reafirma que, no Garantido, o som não é só som. É identidade. É resistência. É emoção. E está pronta para, mais uma vez, emocionar Parintins.
Por Mafê Santana, ASSCOM-MAG
*ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DO MOVIMENTO AMIGOS DO GARANTIDO – ASSCOM MAG*
Contato: Arnoldo Santos 99136.5048
E-mail: [email protected]