Tem-se falado muito em golpe, motivado pelas ameaças do genocida, mas golpe é uma estratégia de tomada do poder que se vincula a interesses internos e externos.
Não precisamos ir muito longe na história para comprovar isso.
Em 1964, o golpe militar no Brasil foi parte de um plano dos Estados Unidos para América Latina, no contexto da Guerra Fria. Assim, teve golpe no Chile (1973), na Argentina (1976), Bolívia (1964), Paraguai (1954), Uruguai (1973), Equador (1970), e outros.
É claro que não se trataram de golpes com objetivo único militar e de segurança, mas de fortalecimento da economia americana através da instalação de governos civil/militar subservientes, dispostos a aceitarem que seus países se tornassem colônias do imperialismo.
No campo interno, as elites sempre tiveram seus interesses representados pelos interesses da sede, desde os primeiros momentos do reinado e da república. São estratos desnacionalizados, que circulam em torno do pátrio poder, já que se acham filhos da casa grande.
E hoje, haveria possibilidade de um golpe civil/militar no Brasil? Sim, por uma razão simples: os militares tem a força das armas.
Mas há contexto internacional ou de interesses em risco dos Estados Unidos para sustentar um golpe com força militar por aqui? Não vejo isso.
Primeiro, não temos a “ameaça comunista”, apesar dos idiotas que seguem o bicho feio ficarem repetindo essa tolice e vendo o fantasma do comunismo em todo lugar. Está mais para uma psicose coletiva.
Segundo, os interesses das elites internas e da sede estão blindados. Ninguém fala em mexer nesses privilégios. Nem o PT ou outros partidos que apresentem candidatos concorrentes em 2022.
Uma aventura militar no desejo tresloucado de Bolsonaro seria uma tragédia aqui dentro e fora do Brasil. Logo agora que governos de perfil democrático e liberal começaram a ganhar eleição nos países do continente.
Ainda no campo internacional, a nova geopolítica é outra, que substituiu o velho golpe das baionetas e dos tanques por estratégias de cooptação institucional. É o que é chamado de Guerra Híbrida.
O golpe sempre será um esqueleto a nos perseguir dentro da democracia, enquanto não tivermos uma sociedade civil organizada e forte e as instituições republicanas forem só letra da constituição. Até lá, vamos reagir com a firmeza que a ameaça impõe e derrotar os golpistas dentro do estado de direito.
Lúcio Carril
Sociólogo