Tenho visto neste início de governo Lula muitas manifestações de preocupação com a “ditadura” na Nicarágua. Gente que se considera de esquerda ou “isentona” passou a cobrar uma posição mais incisiva do governo de condenação daquilo que a imprensa corporativa lhe informa como violações dos direitos humanos naquele país.
A intenção de tais cobranças sequer disfarça a tentativa de ver o governo Lula dando uma guinada à direita, para demonstrar subserviência aos Estados Unidos e às elites reacionárias do Brasil. Trata-se da defesa de um alinhamento geopolítico.
É claro que ao procurar uma narrativa de direita o incauto tende a seguir um caminho de direita. Mas há outro lado. Repórteres internacionais de mídias
alternativas que vivem na Nicarágua já revelaram as tramoias golpistas da
igreja católica e da grande imprensa nicaraguense, bancadas com fortes
recursos financeiros dos Estados Unidos. Mas isso não interessa a quem quer seguir a versão daquele que construiu seu poder violentando a soberania de muitos países.
Será muito estranho se o governo Lula seguir a mesma posição do genocida Bolsonaro e passar a fortalecer as posições imperialistas na ONU.
Se tem dedo dos EUA, tem sacanagem. Foi assim por toda história, principalmente na América Central (apoiaram a ditadura somozista por mais de quatro décadas) e América Latina. Hoje, eles não patrocinam tanques e fuzis nas ruas para matar os democratas. Hoje, eles articulam as instituições para golpearem a democracia e derrubarem governos.
Só os “isentões” que esqueceram ou não reconhecem o golpe de 2016 no Brasil.
Deve ter exagero nas ações de Ortega, mas a igreja católica e a grande imprensa de lá estão há anos tentando derrubar o governo, com declaradas
ações golpistas. Ou seja, não se trata de um lado massacrando o outro. Há
denúncias, inclusive, que as elites endinheiradas da Nicarágua financiam milícias armadas para combater o Estado.
É bom que não se esqueça que a guerra sempre será também midiática. Assim
como no conflito Rússia/Ucrânia, só recebemos informações controladas por
um lado, daquele mais interessado e que ganha com a guerra. No caso da
Nicarágua não é diferente. Se a direita está contra, vamos ficar com um pé atrás.
Lúcio Carril
Sociólogo