Robson Carvalho – Sentado em um dos bancos da Praça da Matriz, no centro Histórico de Manaus, bem próximo ao Relógio Municipal, José Ribamar Silveira Alcântara, 78 anos ou simplesmente ‘seo Miagui’, como é mais conhecido, vive como um dos mais de dois mil andarilhos ou pessoas em situação de rua na área central da capital do Amazonas.
Cristão, olhar cansado, cicartrizes de tantas quedas, uma vez que sofre de Diabetes severa e carregando uma mochila com roupas velhas, manchadas e rasgadas pelo tempo, a mioria recebida de pessoas que se comovem com a sua situação, ele diz que aprendeu a seguir os sinais de Deus, depois que foi abandonado pela ex-mulher que, segundo ele, fugiu com outro homem para outro estado, enquanto ele estava internado entre a vida e a morte, em um hospital local, após um AVC que o deixou impossibilitado de andar e trabalhar.
Os dois filhos que teve com a mulher, também o abandonaram segundo ele. “Faz tempo que não os vejo. Já são homens, mas não vem me visitar aqui. Acho que eles tem vergonha de mim”, acredita.
COMANDANTE DE BARCO
A profissão que ele exerceu e que lhe proporcionou os dias mais prazerosos em sua vida, foi de Prático ou Comandante de embarcações fluviais. Viajou por vários municípios do Amazonas na década de 60, 70 até meados dos anos 90.
“Eu ganhei muito dinheiro, vivi bem e me diverti muito. Casei com a mulher que eu escolhi. Hoje, sei que deveria ter pedido que Deus me desse uma mulher e não eu a escolhesse da minha vontade. Foi um erro.”, afirma.
Todas as manhãs Seo Miagui acorda ás 5h, faz a sua oração matinal na frente da Igreja da Matriz. Segundo ele, ora agradecendo ao Senhor pela vida e por acordar. Também pelos amigos que o ajudam, entre eles, o dono de uma banca de café que há ao menos três anos o ajuda com o dejejum todas as manhãs.
CERCADO DE COMPANHEIROS
José Alcântara tem o nome pomposo e é respeitado por todos na praça onde vive. Segundo ele, para viver na rua, a pessoa tem que entender como funciona e evitar confusão.
Vez por outra a Polícia passa pelo local, observa, fala com alguns e vai embora. O pároco da Igreja da Matriz ajuda, mas ele considera uma pequena ajuda. Alimento, mas não é constante.
AMIGOS PODEROSOS
Miagui lembra dos tempos em que conviveu com grandes empresários do ramos de embarcações, políticos e radialistas, a maioria mortos.
Conheceu e conviveu com o governador Amazonino Mendes, Ronaldo Tiradentes, Josué Cláudio de Souza, o saudoso proprietário da Rádio Difusora, entre outros.
“Foi uma época boa, eu tinha muito dinheiro e me tornei radialista na Rádio Rio Mar, dos padres. Aprendi com vários radialistas famosos na época. Mas tudo passou.”, conta.
“Agora vivo aqui, mas tenho Deus comigo e agradeço a Ele todos os dias pelos amigos e as pessoas que me protegem e me dão o alimento de cada dia, como você que veio aqui e me ofereceu o café da manhã. Muito obrigado! Que Deus lhe abençoe!”, finalizou.